Há muitos anos atrás, minha esposa dava aulas de inglês em uma escola no bairro Água Verde aqui em Curitiba. A última aula dela terminava às 21h e a escola fechava em seguida. A rua onde ficava a escola até hoje é basicamente comercial e na maioria dos dias, a escola era o último comércio a fechar. A rua ficava abandonada. Imagine então uma menina de 1,55m tarde da noite sozinha em uma rua abandonada. Bom, eu sempre chegava um pouco antes para ela não ficar esperando do lado de fora ou forçar o pessoal do curso a ficar esperando com ela.Certo dia, eu sai atrasado, ocupado trabalhando até tarde. Nós moravamos no bairro São Francisco, um tanto longe da escola, então eu demorava uns 15 a 20 minutos para chegar lá (o trânsito de Curitiba não foi planejado para fluir e mesmo se fosse, com a velocidade que as pessoas dirigem, seria lento do mesmo jeito). Estava eu, já atrasado, passando por uma rua onde passariam tranquilamente dois veículos médios quando eu me deparo com um Daewoo (um daquelas marcas que Brasileiros acham fantásticos porque estão dirigindo carros importados, mas na minha opinião, uma empresa que não consegue fazer um microondas decente, não é exatamente a marca de carro que eu quero ter) andando bem no meio da rua, impedindo que qualquer pessoa passasse, e, é claro, a uns 40km/h, NO MÁXIMO.
Eu tentei passar pela esquerda, tentei pela direita, mas ela não saia do meio da rua. Pisquei o farol alto, dando sinal de luz indicando que eu queria passar, mas ela ignorou. Buzinei duas vezes. Nada. Acionei a buzina e deixei a mão lá uns 10 segundos e a resposta dela foi gesticular em frente ao retrovisor, para que eu pudesse ver, indicando que era para eu passar por cima. Bom, este foi o dia de azar dela. Eu tinha naquela época um Gol BX 1981. O para-choques era de ferro, daqueles cromados e duros, feito trilhos de trem. Aquele carrinho, com motor 1.6 litros e dupla carburação Weber é um trator. Eu acelerei e engatei no para-choques personalizado dela e engatei a segunda. O Golzinho começou a empurrar o Daewoo. Eu empurrei o carro dela até a próxima esquina, onde a rua ficava mais larga e eu pude desacelerar e ultrapassar ela.
Não sei bem o que aconteceu com ela, mas ao passar por ela, ela estava imóvel, com uma expressão chocada no rosto. Talvez tenha tido um ataque cardíaco ou talvez estivesse com medo de se mexer e eu fazer pior com ela. De qualquer forma, buzinei agradecendo e acenei para ela e fui embora. Cheguei apenas 5 minutos atrasado para buscar minha esposa
Eu lavei o carro no próximo final de semana e notei, após tirar a tinta branca, que no meu para-choques não tinha praticamente nenhum arranhão!