Eu trabalho em uma empresa de desenvolvimento de software há 7 anos. Neste tempo, convivi com muita gente, a maioria pessoas bem mais novas do que eu. Fiquei conhecido por minhas histórias de “antigamente” sobre tecnologia e o mundo em geral, mas recentemente parei para pensar e a maioria das histórias não foi há tanto tempo assim. Nos últimos 30 anos, o mundo mudou tanto que alguém como eu que viveu esta revolução tecnológica testemunhou e viveu em primeira mão uma série de inovações que mudou totalmente nosso modo de vida.
As duas maiores revoluções dos útimos 30-40 anos são certamente o microprocessador e, consequentemente, o microcomputador, e a internet. Imagine então um mundo sem computadores. Tecnologia se limitava a videogames simples e brinquedos de controle remoto. Alguns poucos com um nível de automação que poderia ser, com muita imaginação, considerado inteligência. Um exemplo disso é o robô Percival, que tive na década de 80. Ele era um boneco em formato de robô que andava controlado por controle remoto, poderia carregar coisas em seus braços, que travavam, mas não tinham qualquer automação, e tinha um jogo (Genius) na cabeça. Apesar de ser um brinquedo para os padrões de hoje extremamente simples, com a imaginação de uma criança, ele ganhava vida.
Com o microprocessador, hoje meus filhos têm brinquedos com inteligência própria, que interagem e até conversam com eles. Isto era ficção científica na minha infância. Brinquedos se tornaram inteligentes, videogames evoluíram para a realidade virtual e o mundo mudou para sempre. Com o microprocessador, começou a popularização dos computadores. Hoje é difícil achar uma casa que não tenha ao menos um computador, seja na forma de notebook, tablet, celular ou desktop. Isto abriu um mundo de novas possibilidades para trabalho e lazer.
Com a vinda da internet, este mundo de possibilidades ganhou escala global e hoje podemos jogar jogos com pessoas do mundo todo, online, comunicar instantaeamente com qualquer um em praticamente qualquer lugar do planeta e temos acesso a toda a informação, cultura, história e arte do mundo através da internet. Quando eu era criança, na época do Percival, informação vinha da enciclopédia. Eu tinha uma coleção da famosa Enciclopédia Britânica e fazer trabalhos de escola envolvia pesquisa e leitura nos vastos volumes da enciclopédia. Se o assunto exigia mais pesquisa, bastava andar até a biblioteca e fazer a pesquisa usando a classificação decimal de Dewey nas fichas de livros, criadas individualmente para cada livro! Hoje, basta entrar em um mecanismo de busca como o Google e pesquisar e você terá acesso aos acervos de bibliotecas e todo o conhecimento humano que está online.
A internet mudou também a forma de comunicar com os amigos e parentes. Quando eu era novo, para qualquer lugar que eu viajasse, eu mandava um cartão postal para minha avó. Cartões eram vendidos em qualquer lugar. Bastava escolher a foto, escrever um bilhete no verso, endereçar e colocar um selo para que seguisse para o destino. O tempo dependia da distância mas em no máximo 15 dias, ela recebia o cartão com a foto de onde eu estava. Para enviar fotos mesmo, eu tinha que tirar a foto, mandar revelar o filme, escolher a foto que queria mandar, mandar imprimir uma cópia da foto, escrever algo no verso ou em um bilhete ou carta, colocar tudo em um envelope, endereçar o envelope, colocar selos e mandar. Hoje, basta pegar meu celular, tirar uma selfie, mandar via email ou Whatsapp com uma mensagem. Em poucos segundos, está no destino. E ainda há gente que reclama da demora em entregar a mensagem quando demora alguns segundos ou minutos a mais. Eu tinha amigos no exterior e algumas cartas demoravam até 30-45 dias para chegar. E consideravamos normal.
Com estas duas invenções, nada é mais como era a meros 30-40 anos atrás, quando eu era criança. Converso com meus colegas, alguns com idade para serem meus filhos, e descubro cada dia uma ideia, tecnologia, invenção ou conceito novo e me sinto um verdadeiro tecnossauro! Felizmente, ainda não estamos em extinção, mas logo, não haverão mais testemunhas do estilo de vida que eu vivi, criando brinquedos com caixas de papelão, brincando na rua, frequentando bibliotecas e escrevendo cartas para os amigos e parentes.