Cada cidade no mundo todo tem suas características, peculiaridades, curiosidades, aspectos positivos e negativos e tudo mais. É interessante observar como as pessoas do norte ao sul do Brasil são diferentes. Eu já morei em várias cidades e aproveito para compartilhar as peculiaridades de cada uma.

Curitiba

Como moro atualmente em Curitiba, vou começar aqui. Quero deixar claro para os sensíveis que certamente irão brigar comigo depois de ler este artigo que não estou fazendo críticas, apenas observações. Mas até vocês, críticos de plantão, defensores da honra dos Curitibanos, têm que admitir que tem muitas coisas diferentes aqui, se compararmos às outras regiões do Brasil.

• Vina – Quando quiser comer um cachorro quente, basta ir até a esquina. Raramente vi uma cidade com tantas barraquinhas de cachorros quentes quanto aqui! Anthony Bourdain ficaria orgulhoso com a criatividade dos complementos que podemos escolher! Mas um aviso aos “estrangeiros” (logo que cheguei em Curitiba, uma pessoa muito culta e evoluída em uma fila de supermercado me chamou de estrangeiro e falou que eu deveria voltar para o lugar de onde vim.): quanto te perguntarem quantas VINAS quer no cachorro quente, não se assuste. Vina é salsicha! Existem várias teorias do porque chamam assim, e as duas mais conhecidas são que pode ser porque as salsichas são do tipo “viena” e outra é porque salsicha em alemão é weiner e como há uma forte colonização alemã aqui, podem ser esta a origem.
• Curvas – Quando estiver dirigindo nas cidades de Curitiba, note a aparente calma das pessoas. Dirigem devagar. Mas não se deixe enganar! O perigo está literalmente a cada esquina! Fazer curvas em Curitiba lembra os antigos modelos do início do século passado, como o Ford Modelo T, que não tinha um bom jogo de direção. Pois é, fazer uma curva ou virar uma esquina em Curitiba pode ser muito perigoso para os desavisados! Minha teoria é que os carros aqui são adaptados, antes de serem vendidos, com uma redução do curso do volante, fazendo necessário “abrir” a curva e invadir a faixa ao lado. Desta forma, é impossível fazer a curva ao lado de outro veículo.
• Velocidade – Continuando a falar do trânsito, se você é daquelas pessoas que gostam de chegar rapidamente a algum lugar, Curitiba não é a cidade para você. Tenho a impressão de que o código de trânsito aqui é diferente das demais capitais do Brasil. Aqui, se você quiser ir mais devagar, vá para a faixa da ESQUERDA! Isso mesmo! Apesar de ser ilegal ultrapassar pela direita em outras cidades, aqui é a regra. Se estiver com pressa, ultrapasse pela direita, pois não adianta dar sinal de luz, buzinar ou xingar porque aquela pessoa a 40km/h numa via de 60km/h não vai sair da frente e te dar lugar. Além disso, arrancar em um semáforo em Curitiba é um teste à sua paciência. Se em uma outra cidade, durante o sinal verde, 20 carros conseguem passar, aqui serão 10 ou menos. Não se espante se o sinal estiver verde há 15 segundos e a primeira pessoa ainda não tiver arrancado!
• Estacionamento – Aqui em Curitiba, as faixas separando vagas são meras sugestões. Estacione como quiser, ocupando duas vagas, três se conseguir, ou da forma que preferir. Se estiver marcado IDOSO ou for uma vaga reservada para algo como pessoas deficientes, isto também é mera sugestão. Como aqui você só é multado se passar em um radar acima da velocidade, não se intimide com as placas avisando que o uso da vaga de forma irregular está sujeito a multa. Ninguém vai te multar. E se estiver na rua e for estacionar em uma vaga paralela à calçada, deixe pelo menos 2 metros do carro da frente e mais dois do carro de trás. Afinal, onde caberiam 4 em outras cidades, aqui só cabem 3. E não adianta reclamar ou ficar nervoso. Ninguém vai achar isso estranho.
• Seta – Sabe porque Curitibanos não ligam a seta para indicar que vão virar? Porque Curitibanos, como todos sabem, não falam com estranhos, dai ele não vai dizer para o estranho que está dirigindo o carro atrás do dele onde ele vai, certo?
• Cumprimentos – Em Curitiba, as pessoas são reservadas. Ninguém realmente fala com estranhos. Não adianta entrar no elevador e dar bom dia para as pessoas porque você vai só causar mal-estar entre os ocupantes do elevador. Não importa se as pessoas trabalham na mesma empresa que você ou que você os encontra todos os dias nos elevadores e corredores. A menos que já tenha sido apresentado à pessoa, não fale com ninguém e olhe sempre para o teto, a porta ou o indicador de andar. O mesmo vale para o ambiente de trabalho. Entre mudo, sente na sua mesa, trabalhe e saia calado. Falar com um vizinho? Nem pensar. Faça de conta que ele é uma estátua e vá embora logo.
• Penal – Aparentemente as crianças curitibanas ainda aprendem caligrafia e usam uma pena com pote de tinta, pois no início do ano escolar, todas compram um penal. Certa vez minha esposa foi elogiar o estojo de um de seus alunos e o aluno não entendeu do que ela tava falando até ela apontar. Dai ele respondeu “Ah, meu penal! Obrigado, é bonito mesmo”.
• Piá – Não, não cometi um erro e escrevi pia com um acento. Praticamente todas os estados têm uma palavra para descrever um garoto jóvem. Em Minas Gerais é garoto (ou moleque se ele aprontar muito), no Rio Grande do Sul é “guri” e assim por diante. Aqui em Curitiba, é “piá”. Não sei bem o motivo, mas se te chamarem de piá, não ache que é um insulto. Na minha idade, é até um elogio!
• Guspir – Pois é, Curitibano não cospe, ele gospe. Embora não exista no dicionário, todos estão convencidos de que a palavra é com G e não com C.
• Correndinho – Em Curitiba, as pessoas falam algum dialeto de português que não existe em nenhum outro lugar do Brasil ou do mundo. Por exemplo, aqui é permitido colocar diminuitivo no adverbio ou no verbo. Ele veio “correndinho” até o carro. Meigo, não?
• Carpir – Como falei acima, em Curitiba, fala-se um dialeto. Por exemplo, ao invés de dizer que vai capinar o mato, aqui você vai carpir o mato.
• Capão – Em Minas, um capão é um porco castrado. Aqui é um campo grande. Um capão, claro. Como não?

Salvador

Salvador é uma cidade fantástica para se morar. O povo é muito amistoso e prestativo, as praias são lindas e a comida é ótima. Mas para uma pessoa vinda de outras regiões do Brasil conseguir morar em uma cidade como esta, é necessário fazer um curso antes de chegar lá. Você já ouviu falar de algum baiano que morreu de ataque cardíaco? Pois é, nem eu. Então faça um curso de relaxamento, aprenda a não ter pressa e você se dará muito bem aqui em Salvador.

• Trânsito – Todo mundo corre bastante em Salvador. Apesar do número alto de carros por habitante, o trânsito flui bem. Não se preocupe com aquelas placas de 60km/h. Isso é mera sugestão. Pode ir a 90km/h que a menos que faça uma barbeiragem muito séria ou passe por um radas, não vai ser multado por andar em alta velocidade. Aqui o pessoal arranca rapidamente no semáforo e tenta atingir a velocidade mais alta possível em menos de 10 segundos.
• Trânsito II – Mas não pense que aqui é tudo isso. Certa vez eu estava no centro velho, em uma rua estreita onde passa só um carro por vez, e de mão única. O semáforo fechou e eu parei atrás de uma fila de cerca de 10 carros. O semáforo abriu e fechou umas quatro vezes mas os carros não andavam. Tentei ver se teria acontecido um acidente ou se algo estava errado adiante, mas não vi nada que impedisse o trânsito. Resolvi então buzinar um pouco para ver se a pessoa impedindo o trânsito andava. Abaixei a janela e olhei para fora enquanto buzinava. Logo uma pessoa passando me disse, “Deixe de agonia, meu rei, ele tá pegando o telefone dela e já vai andar.”
• Comida quente – Quando estiver na Bahia, muito cuidade. Sei o quanto as pessoas gostam de comida quente, cozinhada recentemente e direto da panela, mas na Bahia, comida quente tem outro significado! Se pedir comida quente em Salvador, tenha um extintor de incêndio ao lado ou seja uma daquelas pessoas que realmente gosta de pimenta, porque “quente” significa apimentado!!!
• Pontualidade – Aprendi logo na minha primeira reunião de negócios o que significa pontualidade em Salvador. Marquei uma reunião com uma empresa para discutirmos um projeto. Marquei para 14h pensando que já teriam almoçado. Cheguei na empresa 13:50 para causar boa impressão, como é normal em outras cidades. A porta estava trancada. A secretária chegou 14:15 e com uma expressão de curiosidade no rosto comentou, “Você já chegou!” A pessoa com quem marquei reunião chegou 14:40 com a mesma expressão de curiosidade pela minha presença. A reunião começou 15h. Aparentemente tem um fusohorário de 1h em Salvador!
• Arrudeie – Certa vez pedi informações para chegar a um local em Salvador e em certa altura da elaborada explicação, a pessoa me falou, “então, dai quando chegar na rótula, arrudeie que é do outro lado”. Bom, vamos traduzir. Rótula é rotatória ou balão ou queijinho, dependendo de que região do Brasil você for. Arrudeie é dar a volta, rodear, ou “arrudear”.
• Deixe de agonia – Expressão muito comum ouvida de baianos para pessoas vindas das regiões mais ao sul do país. Significa, relaxe, não se estresse tanto, entre no rítmo baiano de ser. Alias, acho que todo mundo deveria fazer um estágio na Bahia para aprender com se vive sem estresse. Eu quase tive um ataque cardíaco lá tentando relaxar!
• Artistas – Todo baiano é artista. Pode perguntar. Ou cantam, ou tocam um instrumento ou fazem teatro ou outra forma de arte, mas todos são artistas. E apenas para constar, baiano não morre, sai de cena.

Rio de Janeiro

• “Passe lá em casa” – É normal terminar um encontro com um carioca e ele te dizer para passar na casa dele para fazer uma visita. Só não te dá o endereço e provalmente nem o telefone! Este hábito significa, não passe lá em casa, estou só sendo educado.
• Buzina – No Rio, as pessoas ficam com a mão na buzina aguardando o sinal verde. No exato momento em que abre o semáforo, os primeiros 10 carros buzinam para avisar que abriu, como se os primeiros da fila estivessem dormindo ou entretidos em outra coisa. Se todos fazem, é realmente necessário lembrar os primeiros da fila?
• Seta de Ônibus – No Rio, ônibus têm poderes mágicos. Ao ligar a seta, todos os carros na pista ao lado, para onde ele quer entrar, imediatamente desmaterializam. Basta o motorista ligar a seta e entrar na pista, despreocupado se tem alguém ali ou não. Inclusive, a seta nos ônibus do Rio ficam sempre ligadas. Só mudam o lado para o qual pisca, não que signifique coisa alguma. Às vezes penso que para os motoristas de ônibus cariocas, a seta tem um significado diferente, desconhecido dos motoristas de automóveis.

Brasília

• Tesourinha – Em outras cidades, tesourar ou costurar é dirigir em zigue-zague, ultrapassando os carros mais lentos por qualquer lado. Mas em Brasília, uma das invenções para facilitar e organizar o trânsito, implementaram a famosa tesourinha. Na minha opinião, parecem mais trevos, mas podem ser duas tesouras sobrepostas, vindas de lados opostos. Desta forma, se quiser sair da via em que está e entrar em uma via perpendicular que dá a volta por baixo da via em que está, basta pegar a segunda saída da tesourinha. Se quiser sair e pegar a perpendicular mas seguir para longe da da via em que estava, pegue a primeira saída a direita. Entendeu? Não? Bom, então vou colocar uma foto para entenderem. Acho que com a foto também vão entender porque é chamado de tesourinha, certo?

Tesourinhas

• Balão – Fazer o balão não significa confeccionar um balão de borracha ou um balão de São João. No planejamento de Brasília, foram implementadas as rotatórias praticamente em todas as quadras para melhorar o fluxo do trânsito. Embora isso seja duvidoso, pois a preferência é sempre de quem está fazendo o contorno na rotatória e às vezes você tem que esperar 15min para andar. Mas as rotatórias ganharam o apelido de balão, então fazer ou contornar o balão significa dar a volta na rotatória.
• Elefante Branco – Muita gente já ouviu falar nesta expressão e sempre associa a algo ruim. Dizer que o seu carro é um elefante branco geralmente significa que ninguém o quer, que está casado com ele para sempre. Mas em Brasília, tem uma escola pública chamada Elefante Branco que de fato é uma das melhores escolas do DF e talvez do Brasil!
• Passa lá em casa – Como no Rio, os brasilienses também têm a mania de te convidar para visitar, mas não te dão o endereço. Contudo, se você chamar 20 amigos para um churrasco, pode contar com uns 60 convidados! Claro que não vão te avisar que vão trazer amigos ou família! Um convite serve para 1 a 4 pessoas!!!

Para ajuda na compreenção do texto, veja que semáforo é o mesmo que sinal (RJ), farol (SP) ou sinaleiro (PR).